7.10.2025

ESTUDANTES DO IFCE desenvolve concreto sustentável com CASCA DE COCO

Material foi aplicado na produção de piso para pessoas com deficiência

Estudantes do campus de Itapipoca do Instituto Federal do Ceará (IFCE) desenvolveram um tipo de concreto que pretende unir a vantagem de um material mais leve à sustentabilidade. A ideia do invento, chamado de concrecoco, é usar a casca do coco verde para substituir agregados comumente utilizados no mercado da construção civil, como areia ou brita.

A pesquisa teve início em março de 2024, quando o professor Adalberto Viana convidou alunos do curso técnico integrado em Edificações a investigarem necessidades de Itapipoca que se relacionassem à sustentabilidade e aos estudos em sala de aula. Foi observada, então, a grande quantidade de excedentes de cocos descartados em um lixão da cidade.

EM BUSCA DE UMA NOVA SOLUÇÃO

Segundo dados de pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Ceará é o estado que mais produz coco no Brasil. Foram contabilizados 519.037 milhões de unidades naquele ano. As indústrias aproveitam principalmente a água, o leite, o óleo e a polpa ralada do fruto, sendo parte dos produtos direcionados à exportação. Itapipoca está entre os municípios que participam ativamente dessa cadeia econômica. 

A quenga do coco, como é popularmente conhecido o endocarpo do fruto, leva até dez anos para se biodegradar quando não é aproveitada, segundo pesquisa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O descarte inadequado, além de poluir o meio ambiente, pode facilitar a procriação de animais peçonhentos e insetos vetores de doenças, entre outros impactos negativos. 

A solução encontrada pelo grupo de pesquisa, então voluntários do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Científica Júnior (Pibic Jr), foi destinar esses resíduos para a produção de um concreto leve ou bioconcreto, como são chamados os concretos feitos com materiais extraídos da natureza.

ETAPAS DA PESQUISA

Primeiramente, foi realizado o estudo da matéria-prima. “Nós desenvolvemos uma metodologia. Esse endocarpo, depois de limpo, é aquecido a 165 graus para tirarmos o óleo e a água da casca”, explica o docente Adalberto Viana. Em seguida, foi preciso encontrar as quantidades ideais para uma mistura de cascas, água, cimento e areia que resultasse em um concreto leve, resistente e durável. 

Feitos os corpos de prova, chegou o momento de analisar, por exemplo, a capacidade de absorção de água, de sorvidade e a resistência do produto. De acordo com o professor, o desafio de lidar com um material orgânico é que ele se deteriora naturalmente. A alternativa foi encapsular o agregado de modo que ele não sofresse os efeitos da umidade.

Os testes de resistência também obtiveram sucesso. “O que é incrível nessa pesquisa é que ele atingiu uma resistência de 24 MPa. Um concreto é considerado estrutural quando passa de 20 MPa, ou seja, aguenta 200 kg por cm². Não são permitidas construções estruturais no Brasil com menos que isso”, ressalta Adalberto.

Outra meta atingida foi a densidade necessária para o material. Para um concreto ser considerado leve, ele precisa ter densidade inferior a 2 mil kg/m³, enquanto os concretos convencionais têm de 2.400 a 2.800 kg/m³. Ainda assim, podem ser usados para construir estruturas capazes de suportar grandes cargas com segurança.

INOVAÇÃO E ACESSIBILIDADE

Com o concrecoco pronto, a equipe formada por Maria Clara Ferreira, Maria Clara Tomé, Maria Eduarda Freitas, Matheus Lima, Rafaela Sampaio e Riany Silva decidiu aliar a aplicação do produto à responsabilidade social. Seguindo as normas de acessibilidade da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), eles criaram pisos táteis, usados para facilitar a locomoção de pessoas com deficiência visual. Foram feitos exemplares de 25 cm² tanto do tipo direcional, que serve como guia em um caminho, quanto do tipo alerta, para indicar obstáculos.

O objetivo é, em parceria com o Núcleo de Acessibilidade às Pessoas com Necessidades Específicas (NAPNE) do campus, aplicar os pisos no próprio IFCE e avaliar a durabilidade diante do uso e das variações climáticas.

PRÓXIMOS PASSOS

Após um ano, o projeto foi concluído, mas ainda há muito a ser feito. Atualmente, o grupo tem trabalhado, com o auxílio de estudantes do curso técnico integrado em Informática, no desenvolvimento do Concrecalc, um aplicativo para calcular a massa específica do concreto e as quantidades dos materiais usados na produção. Em uma próxima fase, a ferramenta indicará também a medida de resistência.

No âmbito acadêmico, a pesquisa foi apresentada no Encontro de Iniciação Científica e Tecnológica do IFCE em 2024 e deve concorrer ao Prêmio Anas – Mulher e Ciência, do IFCE, e ao Prêmio Jovem Cientista 2025. Além disso, os estudantes pretendem produzir artigos para publicação em periódicos.

O aluno Matheus Lima destaca a importância de ter vivenciado cedo a pesquisa acadêmica: “Foi um projeto que abriu várias portas na nossa vida. Tivemos uma experiência boa de fazer esse estudo com nível de graduação já no ensino médio”. O sentimento é compartilhado pela colega Maria Clara Tomé. “Participar de um projeto de pesquisa como esse agrega muito à vida estudantil. Nós estamos propondo um concreto sustentável ao meio ambiente que também vai ter uma utilidade muito boa. É algo que vai fazer a diferença na sociedade, e isso é muito valioso para nós”, declara a estudante.

O professor Adalberto Viana pretende, futuramente, dar continuidade à pesquisa com novos alunos do curso de Edificações: “Já temos a ciência, o traço e a metodologia. Agora é replicar e até melhorar”.

Fonte: Instituto Federal do Ceará – portal.ifce.edu.br

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