No dia 1º de agosto entrarão em vigor as tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos aos produtos brasileiros. De acordo com o próprio mandatário estadunidense, a tarifa se aplica para países com os quais os Estados Unidos não têm "boa relação".
“Trump foi muito hábil em perceber uma coisa que é a seguinte: primeiro, como as democracias podem ser corroídas por dentro. Trump entendeu isso — acho que no seu primeiro mandato — e agora é isso o que ele está fazendo. E ele está corroendo a democracia não só dos Estados Unidos, como dos outros países também”.
“O Brasil estava em uma posição que internamente é forte, mas que para o Trump é incômoda porque o Brasil tem seguido como um modelo democrático. Então, acho que isso é o principal incômodo que o Trump tem com o Brasil”.
Kalil destaca que, com a resposta institucional dada ao golpismo no Brasil, a democracia brasileira, mesmo com seus defeitos, se torna um modelo para os demais países.
“Não são só questões pontuais envolvendo Jair Bolsonaro, a família Bolsonaro. O que acontece é que o Trump foi um dos articuladores, apoiou e estava do lado de fora da invasão do Capitólio no 6 de janeiro. Os Estados Unidos, por não ter uma justiça eleitoral como tem o Brasil e por várias outras razões institucionais, não conseguiram frear o Trump, e o Trump se reelegeu”.
“O Brasil toma um caminho diferente, porque tem similaridades entre o 6 de janeiro e o 8 de janeiro. E, ao contrário dos Estados Unidos, as instituições brasileiras conseguiram conter o golpismo, fato que agora a gente vai ter o julgamento de todo mundo que foi central para o golpe. O que acontece é que o Brasil, por ser um modelo bem-sucedido de democracia nesses termos que estamos colocando hoje, acaba sendo um empecilho para o Trump, porque para ele não é bom ter uma democracia que apresenta um modelo que dá para dizer: "Bom mas e se a gente copiar isso do Brasil?"”.
“Então, eu acho que acabou acontecendo é uma coisa que inverte um pouco. Durante muitas décadas os Estados Unidos foram um modelo de democracia a ser seguido, inclusive para o Brasil. Agora, o que está acontecendo é que o Brasil está se tornando um player importante, mostrando um caminho democrático após várias tentativas de esvaziamento e de ataque à democracia”.
“Isso não quer dizer que a democracia não tem nenhum problema, mas diante de situações como a tentativa de golpe de Donald Trump, de Jair Bolsonaro e de outros atores com a ascensão da extrema direita no mundo inteiro, o Brasil tem dado respostas muito firmes. E isso incomoda muito o Trump”.
Isabela Kalil, antropóloga da FESPSP
Fonte: uol.com.br
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