1.27.2025

Cearense apaixonado por Arqueologia cria instituto em Fortaleza com raridades que contam origem da humanidade

Vinícius Franco abriu as portas do Instituto Tembetá em 2014 e possui no acervo desde peças encontradas do metrô de Fortaleza a louças estrangeiras dos séculos XVIII e XIX

Se toda criança tem a fase dos porquês, a de Vinicius Franco dura até hoje. Desde os cinco anos de idade, o cientista social pensa em questões fundantes de nossa identidade: De onde viemos? Por que estamos aqui? Que planeta habitamos? “Sempre quis saber de tudo isso”, partilha o cearense em uma ampla sala do bairro Farias Brito, em Fortaleza. 

É nesse recanto onde fica o Instituto Tembetá, fruto mais importante da paixão do estudioso pela Arqueologia. Idealizado por ele, o equipamento abriu as portas em 2014 e resguarda um acervo precioso, capaz de contar partes da origem da humanidade. Uma peça leva a outra, um fato convoca outro, e assim vamos mergulhando na complexa teia de nossa História.

É nesse recanto onde fica o Instituto Tembetá, fruto mais importante da paixão do estudioso pela Arqueologia. Idealizado por ele, o equipamento abriu as portas em 2014 e resguarda um acervo precioso, capaz de contar partes da origem da humanidade. Uma peça leva a outra, um fato convoca outro, e assim vamos mergulhando na complexa teia de nossa História.

A entidade sem fins lucrativos busca proteger o patrimônio histórico, arqueológico, arquitetônico, cultural, paleontológico, artístico, ambiental e paisagístico do Ceará e das demais unidades federativas do país. Apesar da proposta robusta, estar no Instituto é literalmente entrar em uma casa cujas paredes também evidenciam memórias.

O prédio é bonito e data da década de 1940 com piso original e tudo. Simples, já foi escola, pensão e hoje tem no catálogo de objetos e ações a verdadeira riqueza. São pedras, louças, fragmentos de construção, entre outros, sintonizados com nosso passado ancestral. Alguns desses itens, por sinal, foram encontrados em lugares como a estação Chico da Silva, do metrô de Fortaleza, comprovando a proximidade da Arqueologia com a gente.

Essa estação é um sítio arqueológico e existem outros na Casa de José de Alencar, na Sabiaguaba, na Igreja da Sé, no território onde está sendo construído o Acquario do CearáQualquer coisa encontrada nesses locais vai contribuir para nossa memória e turismo, socioculturalmente falando”, explica Vinicius, presidente do equipamento.

A visita ao Instituto acontece apenas mediante agendamento. O lugar tem uma equipe de três pessoas e dispõe de vários cômodos – recepção, sala de reuniões, duas reservas técnicas, três dormitórios, laboratório com área de lavagem, almoxarifado, depósitos e uma pequena área de pesquisa. A intenção é tanto desenvolver trabalhos próprios quanto em parceria.

Como é a visita

O tour pela casa muda a depender do público visitante. Se o grupo for de crianças, é apresentado um vídeo educativo sobre Arqueologia e acontecem atividades envolvendo argila e desenho. Se for um de adultos ou pesquisadores, é possível simular uma escavação. A lateral da casa é coberta com tendas brancas e forma-se uma piscina de areia, onde são jogados objetos específicos e os visitantes buscam encontrar.

No mais, há muito o que explorar no ambiente. São 300 mil peças sob responsabilidade do Tembetá, cujo nome remete ao objeto com formato alongado utilizado por indígenas brasileiros no lábio inferior. “Esses objetos foram um dos primeiros vestígios achados em sítios arqueológicos cearenses. Um tembetá pode ser feito de osso e de diversas variações de rocha e de mineral – principalmente mineral. No expositor, conseguimos ver isso direito”.

Nesse mesmo cantinho do Instituto, é possível conferir cerâmicas tupis – marcadoras da chegada do europeu no Brasil; louças portuguesas e inglesas, do século XVIII e XIX, respectivamente; e pedras lascadas, além de diversas réplicas. A xícara inglesa encontrada na já citada estação Chico da Silva, do metrô de Fortaleza, está lá.

Segundo Vinicius, “para além disso, hoje estou dedicado a desmistificar a Arqueologia. Trabalhamos com rochas, cerâmicas, vasos, esqueletos, mas também com carvão, por exemplo, entrando no ramo da Antracologia. Até com tártaro e cálculo dentários, uma vez que nossa cárie também é invólucro de informação. É uma área bem rica”.

No fim das contas, o pesquisador situa que, para a Arqueologia, a peça é um meio, não um fim. Não à toa, essa ciência quer chegar na pessoa, no indivíduo que fez aquele objeto, para então entender quem é ele, de onde veio, por que fabricou determinado utensílio e para onde caminha. “Dentro de apenas uma argila existem milhões de informações, situa.

É o que justifica também o pendor de Vinicius para a área. Ao cursar Ciências Sociais na Universidade Federal do Ceará nos idos dos anos 2000, apaixonou-se por Arqueologia a partir das aulas de uma professora, a antropóloga Simone Simões, falecida em 2003. Na sequência, fez intercâmbio, trabalhou em outros segmentos, mas não deixou de cultivar aquela semente. Ela floresceu anos depois, quando morou na Serra da Capivara (PI).

À época, pesquisou e se dedicou tanto ao assunto que idealizar o Tembetá foi natural. “O Instituto é uma necessidade prática e algo natural porque, até então, não tínhamos uma instituição de guarda aqui em Fortaleza. Todo o material escavado e coletado ia para Rio Grande do Norte, Piauí e Pernambuco, indo na contramão do que o Iphan orienta: que todo material escavado em determinado território fique o mais próximo possível desse lugar”, diz.

Daqui para a frente

O Tembetá não para. Chancelado pelo Governo Federal para endossar pesquisas de Arqueologia no Ceará, no momento mantém projetos próprios nos municípios de Acaraú, Trairi, Tauá e Icó, além de apoiar várias pesquisas de estudiosos do assunto. Em 2023, tornou-se Ponto de Cultura de Fortaleza e está compondo a lista de museus cearenses. 

Ao longo de 11 anos de trajetória, recebeu em torno de 10 mil visitantes – todos interessados em tecer olhares mais profundos sobre nossa própria ancestralidade. Para o futuro, quer seguir atuante. “O foco é mais trabalho, mais pesquisa de campo e, principalmente, mais educação patrimonial”, destaca o presidente da casa.

Também está nos planos a construção de um sítio-escola cenográfico no próprio Instituto por meio de ajustes pontuais na estrutura. A intenção é atrair cada vez mais pessoas, sobretudo crianças, iniciando desde cedo o gosto por História, memória e patrimônio – premissas básicas para maior valorização de quem somos.

Uma causa que também estou abraçando neste ano diz respeito a sítios arqueológicos urbanos. Temos uma gama de prédios, obras e empreendimentos sendo feitos em áreas da Grande Fortaleza sem acompanhamento arqueológico. Há uma lei do Iphan que desobriga terrenos menores de dois hectares a cumprirem com toda a legislação ambiental no tocante a essa parcela cultural, que é a Arqueologia”, contextualiza Vinicius.

Isso significa que durante a obra de um shopping ou de um estacionamento, a equipe de trabalho pode escavar 10 metros de profundidade, achar várias coisas importantes, e isso vai se perder. É o que tem acontecido”. Na mesma energia de lamento, igualmente brota esperança no pesquisador – perceptível em cada ação e projeto – de que nossa História, tão essencial, seja vivida, amada, preservada.

Instituto Tembetá - Localizado na Rua Gervásio de Castro, 302 - Bairro Farias Brito, Fortaleza. Visita mediante agendamento, de segunda a sexta, das 8h às 18h. Contato: (85) 9 8500-7345 e (21) 9 8605-0644 ou pelos e-mails contato@tembeta.com.br e tembetaigp@gmail.com. Mais informações pelo site redes sociais do instituto.

Escrito por Diego Barbosadiego.barbosa@svm.com.brFonte:https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/verso/cearense-apaixonado-por-arqueologia-cria-instituto-em-fortaleza-com-raridades-que-contam-origem-da-humanidade-1.3608398

Nenhum comentário:

Postar um comentário

REFLEXÃO - TEMPO E TRABALHO

“ E assim Faraó, de coração endurecido, não deixou ir os filhos de Israel, como o Senhor tinha dito a Moisés” (Êxodo 9:35). Um fazendeir...