MT
é estado que mais desmatou Amazônia em janeiro; cidades com
prefeitos fazendeiros lideram. Devastação no bioma aumentou em 68%
em comparação ao mesmo período de 2024
O desmatamento na Amazônia teve
um aumento de 68% no mês de janeiro, em comparação com o mesmo
período do ano passado, de acordo com dados do Instituto do Homem e
Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
Mato
Grosso lidera desmatamento na Amazônia
Entre
os estados que mais derrubaram a floresta, o Mato Grosso lidera a
lista, sendo responsável por 45% da devastação no período. Em
segundo lugar, está Roraima, responsável por 23% do desmatamento e,
em terceiro, o Pará, com 20%.
Dos
dez municípios que mais desmataram o bioma, seis são
mato-grossenses: Juína, Nova Maringá, Feliz Natal, Porto dos
Gaúchos, Aripuanã e Tabaporã. Desses, cinco têm prefeitos
fazendeiros, de acordo com as declarações de bens apresentadas ao
Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Já a prefeita de Aripuanã,
Seluir Peixer Reghin (União), informou à Justiça Eleitoral não
ter bens em seu nome.
Juína,
Nova Maringá, Feliz Natal, Porto dos Gaúchos e Aripuanã estão na
lista dos 81 municípios que mais desmatam a Amazônia, dentro do
Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na
Amazônia Legal (PPCDAm), do Ministério do Meio Ambiente e Mudança
do Clima (MMA).
Juína
e Nova Maringá são os municípios mato-grossenses que mais perderam
área de floresta em janeiro de 2025, com 800 hectares derrubados em
cada um desses lugares. Em Feliz Natal, a área derrubada foi de 600
hectares e, em Porto dos Gaúchos, 500 hectares, aproximadamente.
Aripuanã e Tabaporã perderam, em um mês, cerca de 400 hectares de
floresta cada.
O
Mato Grosso é o estado com a maior produção de soja do Brasil e
destaca-se também pela extensa área de pastagem. Embora o estado
tenha mais representação no ranking do Imazon, o primeiro lugar da
lista é o município de Amajari (RR), que perdeu uma área de
floresta de quase 1,2 mil hectares.
Para
Larissa Amorim, pesquisadora do Imazon, os números do desmatamento
no bioma evidenciam uma crescente pressão sobre a Amazônia e servem
como um sinal de alerta para a necessidade de fortalecer as ações
de monitoramento na região. “Para reverter esse cenário, é
fundamental intensificar a fiscalização, ampliar as operações de
combate aos crimes ambientais e fortalecer políticas que incentivem
a proteção e o uso sustentável da floresta”, afirma.
Prefeitos
fazendeiros
Com
exceção de Aripuanã, os municípios mato-grossenses mais
desmatados têm na chefia do executivo pessoas cujo patrimônio
milionário inclui fazendas.
Em
2024, a prefeitura de Feliz Natal aderiu ao Programa União com
Municípios pela Redução do Desmatamento e Incêndios Florestais na
Amazônia, que prevê investimentos de R$ 785 milhões para promover
o desenvolvimento sustentável e combater o desmatamento e incêndios
florestais.
Embora
seja signatário do programa, o prefeito de Feliz Natal, Toni
Dubiella (MDB), tem o nome cadastrado no sistema do Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama) por
danificar mais de 260 hectares de floresta amazônica no município
de Nova Ubiratã (MT), onde tem duas fazendas.
Dono
de uma madeireira, ele também foi multado por ter no depósito da
empresa madeira extraída de árvores de espécies protegidas, como
cedro e sucupira. As multas foram aplicadas em 2015 e, juntas,
ultrapassam R$ 1,3 milhão, valor que ainda não foi pago, porque os
processos continuam em tramitação na Justiça.
Segundo
a declaração de bens apresentada à Justiça Eleitoral para as
eleições municipais de 2024, o patrimônio de Dubiella ultrapassa
os R$ 12 milhões e inclui, além de terras, investimentos e veículos
terrestres, uma pequena aeronave.
Entre
os municípios do Mato Grosso que lideraram o desmatamento da
Amazônia em janeiro de 2025, somente Tabaporã fica de fora da lista
do MMA. A cidade, no entanto, não foge ao padrão recorrente no
estado de ter prefeitos fazendeiros. Estreante na política, Carlos
Eduardo Borchardt (PL) foi eleito com 53% dos votos em seu primeiro
pleito, em 2024.
Mais
rico entre os seis prefeitos da lista apresentada pelo Imazon, ele
acumula um patrimônio que ultrapassa os R$ 135 milhões. A fortuna é
composta por fazendas, terrenos, veículos e maquinários agrícola.
Somente
a prefeita Seluix Pexier foge à regra dos gestores ruralistas. Nas
eleições de 2020 e 2024 ela informou ao TSE não ter bens em seu
nome. Em 2016, no entanto, quando concorreu à prefeitura pela
primeira vez, ela declarou um patrimônio de R$ 800 mil, que incluía
200 cabeças de gado bovino.
Programa
União com Municípios
Podem
participar do programa União com Municípios as prefeituras dos 81
municípios que mais desmatam a Amazônia, dentro do Plano de Ação
para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal
(PPCDAm).
A
lista de municípios monitorados pelo Ministério do Meio Ambiente é
atualizada anualmente e, em 2024, contava com 70 localidades.
As
prefeituras de Juína, Nova Maringá e Aripuanã optaram por não
aderir ao programa de compromisso de redução de desmatamento. Porto
dos Gaúchos não estava na lista quando o programa União com
Municípios foi lançado, em abril de 2024.
O
Brasil de Fato entrou em contato com as prefeituras dos municípios
mato-grossenses que mais desmataram a Amazônia, mas não teve
retorno até a publicação deste texto. O espaço segue aberto.
Por
Carolina Bataier – Brasil
de Fato
Fonte:
https://iclnoticias.com.br/mt-e-estado-que-mais-desmatou-a-amazonia/