Vinícius
Franco abriu as portas do Instituto Tembetá em 2014 e possui no
acervo desde peças encontradas do metrô de Fortaleza a louças
estrangeiras dos séculos XVIII e XIX
Se
toda criança tem a fase dos porquês, a de Vinicius
Franco dura
até hoje. Desde os cinco anos de idade, o cientista social pensa em
questões fundantes de nossa identidade: De onde viemos? Por que
estamos aqui? Que planeta habitamos? “Sempre quis saber de tudo
isso”, partilha o cearense em uma ampla sala do bairro Farias
Brito,
em Fortaleza.
É
nesse recanto onde fica o Instituto
Tembetá,
fruto mais importante da paixão do estudioso pela Arqueologia.
Idealizado por ele, o equipamento abriu as portas em 2014 e resguarda
um acervo precioso, capaz de contar partes da origem da humanidade.
Uma peça leva a outra, um fato convoca outro, e assim vamos
mergulhando na complexa teia de nossa História.
É
nesse recanto onde fica o Instituto
Tembetá,
fruto mais importante da paixão do estudioso pela Arqueologia.
Idealizado por ele, o equipamento abriu as portas em 2014 e resguarda
um acervo precioso, capaz de contar partes da origem da humanidade.
Uma peça leva a outra, um fato convoca outro, e assim vamos
mergulhando na complexa teia de nossa História.
A entidade
sem fins lucrativos busca
proteger o patrimônio histórico, arqueológico, arquitetônico,
cultural, paleontológico, artístico, ambiental e paisagístico do
Ceará e das demais unidades federativas do país. Apesar da proposta
robusta, estar no Instituto é literalmente entrar em uma casa cujas
paredes também evidenciam memórias.
O
prédio é bonito e data da década
de 1940 –
com
piso original e tudo. Simples, já foi escola, pensão e hoje tem no
catálogo de objetos e ações a verdadeira riqueza. São pedras,
louças, fragmentos de construção,
entre outros, sintonizados com nosso passado ancestral. Alguns desses
itens, por sinal, foram encontrados em lugares como a estação Chico
da Silva, do metrô de Fortaleza, comprovando a proximidade da
Arqueologia com a gente.
“Essa
estação é um sítio
arqueológico e
existem outros na Casa
de José de Alencar,
na Sabiaguaba,
na Igreja
da Sé,
no território onde está sendo construído o Acquario
do Ceará…
Qualquer
coisa encontrada nesses locais vai contribuir para nossa memória e
turismo, socioculturalmente falando”, explica Vinicius, presidente
do equipamento.
A
visita ao Instituto acontece apenas mediante
agendamento.
O lugar tem uma equipe de três pessoas e dispõe de vários cômodos
– recepção, sala de reuniões, duas reservas técnicas, três
dormitórios, laboratório com área de lavagem, almoxarifado,
depósitos e uma pequena área de pesquisa. A intenção é tanto
desenvolver trabalhos próprios quanto em parceria.
Como
é a visita
O
tour pela casa muda a depender do público visitante. Se o grupo for
de crianças, é apresentado um vídeo educativo sobre Arqueologia e
acontecem atividades envolvendo argila
e desenho.
Se for um de adultos ou pesquisadores, é possível simular uma
escavação. A lateral da casa é coberta com tendas brancas e
forma-se uma piscina de areia, onde são jogados objetos específicos
e os visitantes buscam encontrar.
No
mais, há muito o que explorar no ambiente. São 300
mil peças sob
responsabilidade do Tembetá, cujo nome remete ao objeto com formato
alongado utilizado por indígenas brasileiros no lábio inferior.
“Esses objetos foram um dos primeiros vestígios achados em sítios
arqueológicos cearenses.
Um tembetá pode ser feito de osso e de diversas variações de rocha
e de mineral – principalmente mineral. No expositor, conseguimos
ver isso direito”.
Nesse
mesmo cantinho do Instituto, é possível conferir cerâmicas
tupis –
marcadoras
da chegada do europeu no Brasil; louças portuguesas e inglesas, do
século XVIII e XIX, respectivamente; e pedras lascadas, além de
diversas réplicas. A xícara inglesa encontrada na já
citada estação
Chico da Silva,
do metrô de Fortaleza, está lá.
Segundo
Vinicius, “para além disso, hoje estou dedicado a desmistificar a
Arqueologia. Trabalhamos com rochas, cerâmicas, vasos, esqueletos,
mas também com carvão, por exemplo, entrando no ramo
da Antracologia.
Até com tártaro e cálculo dentários, uma vez que nossa cárie
também é invólucro de informação. É uma área bem rica”.
No
fim das contas, o pesquisador situa que, para a Arqueologia, a peça
é um meio, não um fim. Não à toa, essa ciência quer chegar na
pessoa, no indivíduo que fez aquele objeto, para então entender
quem é ele, de onde veio, por que fabricou determinado utensílio e
para onde caminha. “Dentro de apenas uma argila existem milhões
de informações”,
situa.
É
o que justifica também o pendor de Vinicius para a área. Ao
cursar Ciências
Sociais na
Universidade Federal do Ceará nos idos dos anos 2000, apaixonou-se
por Arqueologia a partir das aulas de uma professora, a
antropóloga Simone
Simões,
falecida em 2003. Na sequência, fez intercâmbio, trabalhou em
outros segmentos, mas não deixou de cultivar aquela semente. Ela
floresceu anos depois, quando morou na Serra da Capivara (PI).
À
época, pesquisou e se dedicou tanto ao assunto que idealizar o
Tembetá foi natural. “O Instituto é uma necessidade prática e
algo natural porque, até então, não tínhamos uma instituição de
guarda aqui em Fortaleza. Todo o material escavado e coletado ia
para Rio
Grande do Norte, Piauí e Pernambuco,
indo na contramão do que o Iphan orienta: que todo material escavado
em determinado território fique o mais próximo possível desse
lugar”, diz.
Daqui
para a frente
O
Tembetá não para. Chancelado pelo Governo Federal para endossar
pesquisas de Arqueologia
no Ceará,
no momento mantém projetos próprios nos municípios de Acaraú,
Trairi, Tauá e Icó,
além de apoiar várias pesquisas de estudiosos do assunto. Em 2023,
tornou-se Ponto de Cultura de Fortaleza e está compondo a lista de
museus cearenses.
Ao
longo de 11 anos de trajetória, recebeu em torno de 10
mil visitantes –
todos
interessados em tecer olhares mais profundos sobre nossa própria
ancestralidade. Para o futuro, quer seguir atuante. “O foco é mais
trabalho, mais pesquisa de campo e, principalmente, mais educação
patrimonial”, destaca o presidente da casa.
Também
está nos planos a construção de um sítio-escola
cenográfico no
próprio Instituto por meio de ajustes pontuais na estrutura. A
intenção é atrair cada vez mais pessoas, sobretudo crianças,
iniciando desde cedo o gosto por História,
memória e patrimônio –
premissas
básicas para maior valorização de quem somos.
“Uma
causa que também estou abraçando neste ano diz respeito a sítios
arqueológicos urbanos.
Temos uma gama de prédios, obras e empreendimentos sendo feitos em
áreas da Grande Fortaleza sem acompanhamento arqueológico. Há uma
lei do Iphan que desobriga terrenos menores de dois hectares a
cumprirem com toda a legislação ambiental no tocante a essa parcela
cultural, que é a Arqueologia”, contextualiza Vinicius.
“Isso
significa que durante a obra de um shopping ou de um estacionamento,
a equipe de trabalho pode escavar 10
metros de profundidade,
achar várias coisas importantes, e isso vai se perder. É o que tem
acontecido”. Na mesma energia de lamento, igualmente brota
esperança no pesquisador – perceptível em cada ação e projeto –
de que nossa História, tão essencial, seja vivida, amada,
preservada.
Instituto
Tembetá - Localizado
na Rua Gervásio de Castro, 302 - Bairro Farias Brito, Fortaleza.
Visita mediante agendamento, de segunda a sexta, das 8h às 18h.
Contato: (85)
9 8500-7345 e (21) 9 8605-0644 ou pelos e-mails
contato@tembeta.com.br e tembetaigp@gmail.com. Mais informações
pelo site e redes
sociais do
instituto.
Escrito
por Diego
Barbosadiego.barbosa@svm.com.brFonte:https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/verso/cearense-apaixonado-por-arqueologia-cria-instituto-em-fortaleza-com-raridades-que-contam-origem-da-humanidade-1.3608398